APRESENTAÇÃO

Tarso Genro

Presidente do Conselho do INP

Uma das carências mais evidentes do que se pode chamar "campo democrático de esquerda", na época do pós-socialismo real e da crise do projeto social-democrata, é a ausência de repostas sobre como compatibilizar a democracia e a república com os valores do humanismo revolucionário de caráter iluminista.
A centralidade deste - mesmo partindo exclusivamente do "direito natural" - é reconhecer que os homens são livres e iguais, integrando- os numa ordem econômica fundada na justiça social, na liberdade e na igualdade: a liberdade já como liberdades políticas plenas, que alcancem todas as classe sociais, e a igualdade, via de consequência, como tendência continuada e pautada pelo Estado Democrático, para a supressão das desigualdades de classe, de gênero, de "raça" e nacionalidade.
O que se tem como comum no campo de esquerda partidária, ou não - independentemente das suas fundamentações em princípios filosóficos explícitos - é que tanto na experiência dita soviética sem democracia política, como nas democracias políticas que se desenvolveram nos regimes econômicos do pós-guerra - fundados no domínio dos interesses do grande capital - liberdade e igualdade raramente demonstraram grandes afinidades para sobrevivência conjunta.  Nem demonstraram capacidade de - mesmo nos tempos muito próximos do Holocausto - vacinar a sociedade contra a desumanidade, a guerra, a violência de gênero, as tentativas supremacistas e o racismo. Os mínimos categóricos da ética kantiana que permanecem como promessa - não usar o outro como instrumento e considerarmo-nos todos irmãos humanos pelo simples fato da vizinha obrigatória no mundo - estão sempre no horizonte das boas utopias democráticas. Poderia ser dito, face ao acima referido, que ocorreu, "tanto fracasso das 'revolução burguesas' como das revoluções proletárias!", mas a História é mais complexa do que as sucessões dos "modos de produção", constatadas por Plekhanov, e menos mecânica do que a viu Arnold Toynbee, com os seus "desafios", "respostas" e "decadências".
O épico e o trágico, assim, se convertem um no outro e o que resgata a vontade humana para a exercitar a liberdade e procurar a igualdade é a utopia, tomada como sentido de estar no mundo junto ao outro. E estar na vida em comunhão com toda a espécie.
No cenário integrado da globalização – onde a razão instrumental já é transição para o irracional – emerge um novo sentido de risco à modernidade concreta, que bloqueia o distributivismo socialdemocrata. É que as partes contratantes principais da socialdemocracia (trabalhadores fabris e empresariado industrial) perderam o controle de seus próprios interesses de classe e os pactos políticos que vingam são eleitos pelo mercado, não pelos eleitores. É quando os bancos centrais se tornam os gestores políticos do Estado.
O Instituto Novos Paradigmas resolveu, na sua Fundação, buscar um caminho original, ao não reproduzir as polêmicas intelectuais e políticas tradicionais que percorrem - bem ou mal - os partidos políticos, que necessariamente são destinadas a promoverem vencedores e derrotados, como é natural nas organizações políticas, nas suas disputas internas sobre os seus rumos estratégicos. Pensamos, com a fundação do INP - sem subordinação a qualquer partido ou organização política- que seria mais útil promover "elaborações", para contribuir com o debate democrático - partidário ou não -, gerando ideias e conceitos que valorizassem as grandes polêmicas da modernidade em crise, ajudando a colocá-las num patamar que frequentemente as disputas pelo poder não permitem alcançar.
A valorização dos partidos políticos e dos movimentos, das suas direções legítimas e das suas atividades intelectuais e militantes, aliás, são elementos vitais para a recuperação do tecido democrático e republicano, hoje ameaçado pelo fascismo em todo o mundo. Este relatório é uma peça informativa do nosso esforço, que envolve os nossos associados, conselheiros e direção, que pode dar uma ideia de que somos parcialmente vitoriosos nos nossos objetivos, não só pela qualidade dos expositores nos nossos colóquios, conferências e demais eventos, mas também pela sua pluralidade e alcance internacional. Não só porque hoje não há mais nenhum tema relevante, político, ambiental ou social, que não seja, ao mesmo tempo uma questão da democracia, mas também um tema da globalização cultural e econômica, cada vez mais tutelada e menos libertária. Mais trágica do que épica.
Vamos em frente, projetando as nossas atividades para 2019.

PROPÓSITOS

O conjunto de atividades desenvolvido pelo INP a partir de 2016 reforçou e reorientou nos últimos anos de intensa dinâmica política, as reflexões sobre a qualidade da democracia em um cenário de transição para regimes autoritários constituídos e operados por no Brasil e pelo mundo afora levantou novas observações sobre o impacto da globalização, novas desigualdades e as consequências da revolução tecnológica em todos os âmbitos, inclusive no fortalecimento ou captura dos sistemas democráticos.
Dentre os diversos objetos de preocupação nesses processos, como o desmonte de direitos fundamentais, coube ao INP refletir e provocar o debate sobre as questões democráticas e as demandas para a esquerda nesses cenários.
A seguir, uma síntese das principais atividades em suas respectivas modalidades. O formato de Colóquio se caracteriza como uma reunião mais fechada dirigida a convidados. As Conferências são encontros com grandes personalidades, já os Seminários e simpósios são eventos mais abertos com a participação de especialistas e debates com a participação do público.